Engenheiros do Vácuo - Trecho 03 - Capítulo 1 - Parte 1

[páginas 14-18]


Capítulo Um: Uma Breve História do Primórdio

Em 1999, a Anomalia Dimensional nos fudeu. Com força. Ninguém esperava — isso fudeu cada um de nós, em todos os lados da Briguinha da Ascensão. Naquele dia, o que significava ser um Engenheiro do Vácuo mudou.
Ai daqueles que nos fuderam, pois não mudamos exatamente para melhor.


Nosso Dia de Infâmia

As outras Convenções falam sobre o quanto elas perderam quando a Anomalia Dimensional nos atingiu. Agora, imagine estar no Vácuo quando isso ocorreu. Aqueles que escaparam, contam histórias estranhas: de assistir camaradas serem rasgados por garras invisíveis, cascos das naves derretendo como giz de cera em um forno, microsingularidades fazendo pessoas colapsarem sobre si mesmas, fuzileiros tombando como mortos, mas com seus corações ainda batendo — e essas foram as histórias mais saudáveis.
Nós perdemos boas pessoas. Perdemos naves. Perdemos constructos, especialmente o Centro de Pesquisa Copérnico — o verdadeiro símbolo do nosso orgulho e domínio do Vácuo. Mas perdemos algo mais: perdemos o espaço. Muito do nosso esforço dedicado à formatar o Espaço Convencional foi perdido. O Vácuo se tornou mais próximo das histórias que se encontram nos aquivos dos Mestres Celestiais.
Demorou meses para apurarmos a contagem dos mortos. Pela metade de 2000, eramos menos da metade que antes dessa merda de Anomalia. E isso é só o começo.


Novos Recrutas

Quando se está lutando uma guerra com a metade da força, varre-se o planeta de cima abaixo para encontrar todo e qualquer recruta que conseguir. Dado o quanto as Massas mudaram nos últimos anos, nossos recrutas não vêm mais primariamente da Europa e América do Norte. Atualmente, 37% dos nossos são chineses (e pelas projeções ao final da década será mais de 50%). Outros 10% vêm de outras nações asiáticas, 16% são árabes e 9% são sul americanos. Apenas 3% são africanos, mas não por falta de tentativa — o Sindicato tem se saído muito bem em recrutar a maioria os Iluminados africanos.
Nada disso importa quando se esta no Vácuo. Lá, sua nacionalidade é a Tecnocracia e sua raça é a humana. Afinal, nossos inimigos estão cagando para a cor da sua pele.


Diretório de Ameaças Existenciais

Perdemos nossa velha liderança — o Comitê de Avaliação, Administração e Treinamento em Ciências Dimensionais (CAATCD) — quando perdemos Copérnico. Dada à situação que estávamos lidando, precisamos mudar de explorar o Vácuo para reconstruí-lo. Quando outras entidades (alguns oponentes de longa data, outros ameaças recentes) se posicionaram de forma a se beneficiar com o caos, mudamos de reconstruir o Vácuo para policiá-lo. E por fim, de policiá-lo para ação militar completa. Dos poucos grupos formados para nos dar direção, incluindo uma tentativa de reiniciar o CAATCD, finalmente um sucedeu como nossa liderança: o, com uma abordagem militar,  Diretório de Ameaças Existenciais. Os Engenheiros do Vácuo não são mais uma agência civil que tem um exército, mas forças armadas que tem departamentos civis.
Não foi um golpe de estado; cada Engenheiro do Vácuo Iluminado vivo teve direito ao voto — afinal, não somos bárbaros — e 78% decidiu que isso era uma boa ideia (e 86% em 2006, e 91% em 2010).
Todo o planejamento de alto nível para nossa Convenção acontece sob a perspectiva de simulações de combate e objetivos estratégicos. Somos uma máquina imensa, engrenada para a preservação da humanidade de tudo aquilo que nos ameaça.



Encontrarás Dragões

O Vácuo está cheio de coisas à deriva — Constructos Tecnocratas, Capelas Tradicionalistas, dimensões de bolso fragmentadas, bolhas temporais, redutos Nefândicos, Vacuonaves e Eternaves — todas para serem coletadas e disputadas. Séculos de investimento estão flutuando lá fora.
E temos ameças de sobra vagando lá fora. Algumas nos combatem por um pedaço de lixo espacial que possa conter alguma Energia Primordial ou um fragmento de conhecimento Iluminado. Outras (muitas outras) lutam para cruzar a Película e abrir um novo cu na Terra. O único lado bom da Anomalia é que tornou a Película muito, mas muito mais difícil de ser atravessada. Claro, isso vale para nós também.
Todos estão familiarizados coma a maioria dos jogadores: Nefandi, Maraus, entidades não humanas como “demônios” e “fantasmas” e por aí vai. Mas há um novato à vista, que chamamos de Ameaça Nula. Às vezes, aparentam ser humanos, ou possivelmente pós-humanos. Outras, completamente alienígenas. Atacam com um senso de coordenação e força quase como os Borgs (Star Trek, sabe?). E querem apenas uma coisa: chegar à Terra.
Para aqueles que estavam se perguntando porque mantemos uma liderança militar, eis a resposta.


A Guerra na Volta para Casa

Enquanto estamos focados na guerra além do Horizonte, nossas Convenções aliadas estão se fudendo na Terra. A Nova Ordem Mundial e o Sindicato estão se encarando com facas na mão (o que não é novidade), e estão todos certos que elas irão finalmente se esfaquear (o que também não é novidade). A novidade é que elas acham que a Guerra da Ascensão acabou, que a União venceu a maioria das batalhas e que agora elas podem se virar umas contra as outras.
Estão apontando essas facas para nós também. Exigem respostas que não podemos dar. Exigem contabilidade do que tem acontecido nos últimos dez anos e não podemos dar. Exigem voltar para o Vácuo, o que não vamos deixar. A última coisa que precisamos é um bando de Tecnocratas cabeças-de-vento soltos no espaço sendo cooptados pela Ameaça Nula.
(Ah, esquecemos de mencionar? A maior arma da Ameaça Nula é nos controlar e nos usar como agentes adormecidos. Não como os Nefandi fazem — Nefandi doutrinam; Ameaça Nula nos tornam marionetes.)
Desconfiança e ambição fazem um puta coquetel explosivo, e o resto da União está tomando com gosto.


O Raio de Esperança

Um dos aspectos mais principais que personificamos é o senso de otimismo da humanidade. Nem sempre é fácil, mas é isso que nos separa dos sinistros de terno preto, dos “contadores” e dos geeks eremitas de laboratório no resto da União.
As Massas ainda se encantam com os mistérios das estrelas, mesmo que os governos que antes colocavam fundos gigantescos nos programas espaciais não mais o fazem. O crescimento dos Cidadãos Iluminados é um sinal que talvez, apenas talvez, estamos no caminho certo para a humanidade aceitar um destino além da Terra. E mesmo na própria União Tecnocrata, vemos pequenas mudanças que nos dão esperança, como os Progenitores começando a se aventurar pelo mundo.
Estes são tempos danados de interessante, mas não de todo mau.




Jargão dos Engenheiros do Vácuo

Os Engenheiros do Vácuo amam falastrar a sua sopa de letrinhas e sua estranha mistura de taquigrafia engenheira e militar para tudo que se possa imaginar. O que se segue é o mais comum que ouvirá nos corredores da Estação Iemanjá, no Cop, etc, principalmente pela geração mais jovem.

Absolutamente certo: Uma educada conjectura, aquela tipicamente não confiável. “Estou absolutamente certo de que está morto. Vá recolhê-lo.”

Âncora: Alguém (muitas vezes de outra Convenção) tentando impedir sua nave de decolar.

DBF: Divisão de Batalhões de Fronteira, a Metodologia que impede que coisas terríveis cheguem à Bola de Lama.

BDO: Big Dumb Object[1]. Um objeto misterioso, artificial, gigantesco e impressionante no Vácuo. Exemplos incluem Capelas Tradicionalista, o antigo Cop e os motores da Anomalia Dimensional construídos por um Arquicientista.

Megafonar: Falar asneiras a respeito de um oficial colega na frente de outros, geralmente, bem alto.

Carga: Passageiros na Vacuonave que não podem ajudar com as operações da nave — tipicamente Tecnocratas de outras Convenções. Ainda, Tecnocratas de outras Convenções mortos (vários Engenheiros do Vácuo preferem o sepultamento no Vácuo e não precisam ser trazidos de volta).

Colonos: Humanos que passaram a maior parte de sua vida no Vácuo, especialmente aqueles que nasceram lá. Poucos colonos ainda existem, a maioria dos refugiados lutam para se adaptar à Terra.

O Cop: A Estação Copérnico (também conhecida com “a nova Cop); “a antiga Cop” se refere ao antigo Centro de Pesquisa Copérnico.

IDA: Incursão Dimensional Anômala, ou seja, o que mantém a DFT ocupada.

Perigoso: Algo ordinário. Previsto para ser parte do seu dia de trabalho normal de alguém. Sarcasticamente, jovens Engenheiros o usam para indicar "chato" ou "rotineiro".

ISMD: Instituto de Saúde Mental Descartes, divisão médica do TEN e nosso elo com a sanidade.

CAATCD: Comitê de Avaliação, Administração e Treinamento em Ciência Dimensional; os ex-chefões, antes da Anomalia.

EED: Entidade Extra-Dimensional, o que os tolos chamam de “alienígena”.

DFT: Divisão de Fronteiras Terrestres, a Metodologia que cuida da defesa da Bola de Lama.

DAE: Diretório de Ameaças Existenciais, os novos chefões (também conhecido como Almirantado).

Volume Everett: Uma dimensão alternativa, com uma realidade similar ou totalmente diferente à nossa.

Linhas de Frente: Onde lutamos, e pelo que morremos.

Portal: Pontos de relativa facilidade de acesso através da Película.

Arma: Fuzileiro ou outro combatente de infantaria Engenheiro do Vácuo (“Bruto” e similares são considerados não-Iluminados demais para serem tidos como um camada Convencionista).

IAA (pronuncia-se “ia”): Inexplicável Acontecimento Alienígena. Utilizado informalmente pra designar qualquer coisa que não podem ser facilmente explicados no momento.

Jaqueta: Um piloto, navegador ou outro membro da tripulação da ponte. Chamado assim pela moda dos membros da CPD que usam jaquetas retrô.

Zézando: Esgueirar-se por tubulações e outros espaços apertados, geralmente dito quando se sente estúpido ao fazer isso.

Tralha: Equipamento e armas complementares de sobrevivência pessoal ou específicos de uma missão, especialmente aqueles portados pela DBF.

Bola de Lama: Um termo carinhoso (ou nem tanto assim) para a Terra.

TEN: Tropa de Especialistas em Neutralização, a Metodologia que lida com as coisas realmente estranhas, como as EPVs.

CPD: Corporação Pan Dimensional, a Metodologia que voa por aí com muito estilo.

Pet: Uma amostra de vida, normalmente algo não humano.

EPV: Entidade Pós vida, o que os menos Iluminados chamam de “fantasma”.

Belezinha: Extremamente perigoso. Lidar com extrema cautela.

Papa: Uma pasta enriquecida de vitaminas normalmente usada como comida nas Vacuonaves.

Explorador Quântico: Indivíduo Iluminado capaz de pilotar através da anomalia.

Qui la Machinæ: Classe primária de Vacuonaves, burro de carga da Convenção.

P&E: Pesquisa & Execução, a Metodologia que fabrica os brinquedos legais.

Razoavelmente certo: Uma conclusão já testada baseada em dados empíricos, algo que está realmente disposto a acreditar. “Estou razoavelmente certo de que está morto. Eu irei recolhê-lo.”

Rico: Exposto a níveis letais de radiação ou fenômenos similares.

[algo] de Schrödinger: Estar em dúvida a respeito de alguma coisa, como “Não estou certo se recebi minha comissão, ainda. Por ora sou o capitão de Schrödinger.”

Conversa de bebedouro: Fofoca.

“Segunda estrela à direita”: “Não faço a mínima ideia de onde nós estamos/estamos indo.”

SPAM: ”Servings of Pulpy Anthropic Matter” (ou “Porções de Pus Antrópico Molengo”). Cadáveres reduzidos a um mingau não identificável por intensas mudanças de pressão, aceleração ou fenômenos energéticos.

Starbuck (ou somente “um buck”): Um imã de Paradoxo, um peso morto.

Taikonauta: derivado do termo chinês para cosmonautas ou astronautas. Hoje, um termo de uso comum através da Convenção.

Prismática de Tegmark: O fenômeno que previne que os cientistas não-Iluminados enxerguem o Universo Profundo.

Amen: Um eufemismo de origem britânica para a Ameaça Nula. Considerado o termo mais educado.
“E cheio de estrelas”: Usado quando algo óbvio é dito ou, de alguma forma, um desperdício de palavras.

Ameaça Nula: A recente ameaça a Realidade Consensual. Forma resumida de “Ameaças Emergentes Capazes de Nulificar Procedimentos Iluminados”.

O Vácuo: Tudo o que está além da Terra, ou quase isso.

Vácus, orbitantes, ou coisa piores: Como os haters nos chamam.

Vacuonave: Naves que usamos para viajar pelo Vácuo, desde os pequenos cargueiros até os gigantescos cruzadores de batalha.

O Muro: O santuário dedicado aos falecidos, localizado na Estação Iemanjá.


1- Big Dumb Object, termo da ficção cientifica para qualquer objeto misterioso (geralmente de origem extraterrestre ou desconhecida e imenso poder) em uma história que gera um intenso sentimento de admiração pela sua mera existência;

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